A cabeça dos outros [Martha Medeiros]
Recentemente, a revista “Veja” publicou uma reportagem perturbadora sobre os motivos que levam alguém a matar outra pessoa. Foram entrevistados mais de 90 homicidas, e as respostas, quase todas, coincidiram. Eles sentem medo ao assaltar. Estabelecem um roteiro prévio e ficam em pânico quando algo ameaça sair errado. Qualquer movimento não previsto é razão para atirar. E atiram.
Nada de novo: todo mundo sabe que reagir a um assalto é o caminho mais curto para uma tragédia. Nunca passei por isso e espero ter o sangue frio necessário quando chegar minha vez, mas como deter o impulso de puxar o freio de mão, abrir o vidro, soltar o cinto de segurança, tudo o que pode ser considerado "imprevisto” pelos delinquentes? Por exemplo, quando passo por um susto violento, eu travo, fico sem voz. Ela não sai de jeito nenhum. Se acaso me perguntarem alguma coisa, como provar que meu silêncio não é uma provocação, e sim uma reação fora do meu controle?
Melhor nem pensar.
O que me ficou disso tudo é que somos prisioneiros não só da nossa cabeça, mas da cabeça dos outros também, do que eles pensam a nosso respeito, do que imaginam que iremos fazer, das conclusões a que chegam, das interpretações que fazem. Não há escapatória. Estamos sujeitos ao que nossas narrativas revelam, e elas nem sempre revelam nossa pureza. Estamos sujeitos ao que nossos atos revelam, e eles nem sempre revelam o que sentimos. O que somos de verdade e o que queremos de fato, só nós sabemos. Só nós. Sós.
O planeta é povoado por bilhões de solitários tentando se comunicar em meio a situações de euforia, desespero, descrença e êxtase. Quantas vezes tentaram adivinhar o que sentíamos, e erraram. Julgaram nossas ações, e erraram. Tiveram certeza sobre nossos propósitos, e erraram. Balas perdidas disparadas a esmo, bilhões tentando compreender uns aos outros e passando longe do alvo. Reverenciamos tanto a conexão, mas ela segue mais rara do que nunca.
A cabeça do outro é nosso juiz mais implacável. Acreditamos que temos controle sobre nosso destino, mas esse controle está atrelado ao pensamento do outro sobre nós, o sentimento (ou ressentimento) que ele nutre a despeito de todas as nossas boas intenções. Nossos pais, nossos amigos, nossos filhos, nossos clientes, nosso amor: tudo andará bem desde que sejamos fiéis ao que está previsto. Mas somos seres imprevisíveis por natureza, o que nos faz passar a vida inteira correndo riscos.
Melhor nem pensar.
O que me ficou disso tudo é que somos prisioneiros não só da nossa cabeça, mas da cabeça dos outros também, do que eles pensam a nosso respeito, do que imaginam que iremos fazer, das conclusões a que chegam, das interpretações que fazem. Não há escapatória. Estamos sujeitos ao que nossas narrativas revelam, e elas nem sempre revelam nossa pureza. Estamos sujeitos ao que nossos atos revelam, e eles nem sempre revelam o que sentimos. O que somos de verdade e o que queremos de fato, só nós sabemos. Só nós. Sós.
O planeta é povoado por bilhões de solitários tentando se comunicar em meio a situações de euforia, desespero, descrença e êxtase. Quantas vezes tentaram adivinhar o que sentíamos, e erraram. Julgaram nossas ações, e erraram. Tiveram certeza sobre nossos propósitos, e erraram. Balas perdidas disparadas a esmo, bilhões tentando compreender uns aos outros e passando longe do alvo. Reverenciamos tanto a conexão, mas ela segue mais rara do que nunca.
A cabeça do outro é nosso juiz mais implacável. Acreditamos que temos controle sobre nosso destino, mas esse controle está atrelado ao pensamento do outro sobre nós, o sentimento (ou ressentimento) que ele nutre a despeito de todas as nossas boas intenções. Nossos pais, nossos amigos, nossos filhos, nossos clientes, nosso amor: tudo andará bem desde que sejamos fiéis ao que está previsto. Mas somos seres imprevisíveis por natureza, o que nos faz passar a vida inteira correndo riscos.
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