A síndrome da repetição [Martha Medeiros]
Somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Não, não era assim que eu queria começar, mas tenho essa mania de sempre iniciar uma crônica assinalando o gancho que me inspirou, seja uma música, um filme, um papo com uma amiga, um e-mail de leitor. No entanto, essa crônica nada tem a ver com a música do Belchior que Elis eternizou. A citação foi apenas por força do hábito: todos nós vivemos em constante estado de repetição.
Até pouco tempo atrás, eu procurava um analista para conversar um pouco, fazer balanços, enfim, ele era uma espécie de pronto-socorro emocional, e funcionava. O curioso é que, a cada vez que eu o procurava, voltávamos sempre ao mesmo assunto, as nossas conversas envolviam sempre os mesmos problemas - e eu sempre abandonava o tratamento me sentindo melhor, porém a mesma.
Será minha vida tão monocromática? Não é. O que acontece é que todos temos nossas dores de estimação, nossos erros reincidentes, um caminho que parece uma infinita highway, mas é no fundo uma grande rotatória. Acabamos sempre no mesmo ponto, dando as mesmas voltas.
Faça o teste: você discute com sua mãe sobre diversos motivos ou sempre pelo mesmo? Com seu pai a discussão é mais variada ou empaca sempre na mesma questão? As queixas de suas namoradas são diversas ou parece que elas combinaram de dizer a mesma coisa? E as suas queixas sobre os outros, mudam muito? Quando você vai ao médico, ele não recomenda sempre o mesmo pra você? E você, naturalmente, não cumpre. Se você está casada há 25 anos, responda com sinceridade: a primeira briga que teve com seu marido foi muito diferente da que teve semana passada?
Existem pessoas na minha vida que conheço desde que nasci, fomos colegas de berçário, e não é força de expressão, tenho mesmo uma amiga que nasceu um dia depois de mim, no mesmo hospital, e mal sabíamos que riríamos e choraríamos juntas por toda a vida, não só pelo espanto do parto. Ela é apenas uma entre tantas outras que conheço há séculos, e seguimos sendo quem sempre fomos, e a cada encontro nos repetimos, e isso é a glória: saúdo os reconhecimentos, as sólidas histórias de vida e de companheirismo, o não precisar se reinventar constantemente. Algumas coisas mudam ao nosso redor, mas nossa essência, nossas dúvidas e nossas perguntas - principalmente as perguntas - seguem as de sempre.
Outro dia, um amigo me disse que os únicos relacionamentos que duram são aqueles em que o casal renova os motivos das brigas. Bacana. Pedi pra ele me apontar um exemplo. Ele pensou, pensou, pensou, e depois começou a rir e me enrolou com uma conversa que já ouvi mil vezes, e eu, como em outras mil vezes, retruquei, e acabamos a tarde num abraço afetuoso mil vezes repetido e ficamos de não demorar para nos ver de novo, mas vai demorar, porque sempre demora, sempre foi assim. Tudo acontece do mesmo jeito o tempo todo.
Até pouco tempo atrás, eu procurava um analista para conversar um pouco, fazer balanços, enfim, ele era uma espécie de pronto-socorro emocional, e funcionava. O curioso é que, a cada vez que eu o procurava, voltávamos sempre ao mesmo assunto, as nossas conversas envolviam sempre os mesmos problemas - e eu sempre abandonava o tratamento me sentindo melhor, porém a mesma.
Será minha vida tão monocromática? Não é. O que acontece é que todos temos nossas dores de estimação, nossos erros reincidentes, um caminho que parece uma infinita highway, mas é no fundo uma grande rotatória. Acabamos sempre no mesmo ponto, dando as mesmas voltas.
Faça o teste: você discute com sua mãe sobre diversos motivos ou sempre pelo mesmo? Com seu pai a discussão é mais variada ou empaca sempre na mesma questão? As queixas de suas namoradas são diversas ou parece que elas combinaram de dizer a mesma coisa? E as suas queixas sobre os outros, mudam muito? Quando você vai ao médico, ele não recomenda sempre o mesmo pra você? E você, naturalmente, não cumpre. Se você está casada há 25 anos, responda com sinceridade: a primeira briga que teve com seu marido foi muito diferente da que teve semana passada?
Existem pessoas na minha vida que conheço desde que nasci, fomos colegas de berçário, e não é força de expressão, tenho mesmo uma amiga que nasceu um dia depois de mim, no mesmo hospital, e mal sabíamos que riríamos e choraríamos juntas por toda a vida, não só pelo espanto do parto. Ela é apenas uma entre tantas outras que conheço há séculos, e seguimos sendo quem sempre fomos, e a cada encontro nos repetimos, e isso é a glória: saúdo os reconhecimentos, as sólidas histórias de vida e de companheirismo, o não precisar se reinventar constantemente. Algumas coisas mudam ao nosso redor, mas nossa essência, nossas dúvidas e nossas perguntas - principalmente as perguntas - seguem as de sempre.
Outro dia, um amigo me disse que os únicos relacionamentos que duram são aqueles em que o casal renova os motivos das brigas. Bacana. Pedi pra ele me apontar um exemplo. Ele pensou, pensou, pensou, e depois começou a rir e me enrolou com uma conversa que já ouvi mil vezes, e eu, como em outras mil vezes, retruquei, e acabamos a tarde num abraço afetuoso mil vezes repetido e ficamos de não demorar para nos ver de novo, mas vai demorar, porque sempre demora, sempre foi assim. Tudo acontece do mesmo jeito o tempo todo.
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