Livro: O Cemitério de Praga [Umberto Eco]

Sei que tenho estado afastada do blog e peço desculpas a você, meu leitor conhecido ou anônimo. Por motivos diversos não tenho conseguido postar com a frequência desejada, ter a inspiração necessária para escrever algo interessante para vocês. E, por isso, agradeço por continuarem seguindo o blog por todo esse tempo.

Para mim é muito triste desistir de um livro e, apesar de estar faltando pouco mais de 100 páginas, não sinto vontade alguma de voltar a ler esse romance do grande Umberto Eco. A referência veio de um amigo culto, que assim como eu gosta de uma boa leitura. Porém, não deu liga. Eu insisti, juro. Achei o livro muito confuso, levei ao menos 100 páginas para começar a entender sua dinâmica.

O livro é riquíssimo em história, traz muitos fatos interessantes sob uma leitura um pouco diferente do que os livros nos contaram. Ok, bacana. Não se poderia esperar algo diferente de uma pessoa como Eco. O Nome da Rosa é um brilhante livro, que virou um belo filme. O livro "História da Beleza" é fantástico para quem gosta de história da arte, que aprecia o belo.

Em "O cemitério de Praga" talvez eu tenha vindo com expectativas muito altas. De fato, eu acaba de sair de uma trilogia de romance policial sensacional. Pelo sinopse, referência e críticas acreditei que esse livro se equipararia, mas é outra "pegada". O enredo baseia-se em um personagem "esquizofrênico" que interage com outro personagem, um padre. Na realidade, os personagens se confundem, uma hora é um, em outro momento é outro. Um deixa mensagens para o outro. Algo meio louco.

Talvez seja eu que não tenha entendido a essência do enredo de Eco. Eu recomendo o livro,

O interessante é hoje ter lido uma crônica da Martha Medeiros, autora que sou grande fã, falando um pouco sobre isso, de indicar, referenciar algo para alguém, mas que no fim pode ser que as expectativas não se igualem simplesmente porque você é você, e a outra pessoa é outra pessoa. Portanto, por mais que vocês tenham afinidades pode ser que algo que tenha sido bom para você não seja necessariamente para ela. Daí vem aquela responsabilidade de uma indicação e depois a pessoa não gostar. Faz parte.

Aproveito para finalizar esse post compartilhando essa interessante crônica da Martha Medeiros.

Boa leitura e ótima semana! :)
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A geladeira e o livro 
[Martha Medeiros - Jornal O Globo 26/02/2012]


Fazia dois dias que minha geladeira havia entrado em pane. Não deixou de resfriar, mas as luzes do painel piscavam o dia inteiro, como se fosse uma bomba a ponto de explodir, e o alarme disparava de tempo em tempo, mesmo a porta estando bem fechada. Sou otimista, achei que tudo se resolveria num passe de mágica, mas o coelho não saiu da cartola e acabei tendo que chamar um técnico, que agendou a visita para a manhã seguinte, às 9h30m. Quando eram 9h25m, as luzes do painel, antes esquizofrênicas, apagaram. O alarme já não disparava desde a noite anterior. Eu não queria mágica?
 

A primeira coisa que disse ao técnico: “Acredite, há dois dias que esta geladeira está tendo chilique, só parou quando o senhor começou a subir pelo elevador”. Ele me deu um olhar compreensivo, fez um check up no aparelho e descobriu um pequeno defeito. Alívio. Morri em R$ 300, mas a geladeira ganhou uma sobrevida. E minha neura, também.
 

Ninguém gosta de passar por exagerado. Ao sairmos do cinema, somos capazes de listar um sem-número de elogios ao filme que assistimos, mas basta alguém se empolgar com a nossa descrição e resolver assisti-lo por nossa causa que a responsabilidade começa a pesar: “Olha, eu gostei, mas talvez não seja seu tipo de história. Vá sem expectativas. É meio longo. Tem uma partezinha devagar, mas, sei lá, acho que vale a pena”.
 

Um amigo me recomendou um livro sensacional. Segundo ele, a melhor coisa que leu no último ano. Bom, então quero ler também. No dia seguinte, ele largou o livro na portaria do meu prédio, e quando liguei para agradecer, ouvi: “Talvez tu não goste tanto assim. Comprei pra ti uma edição diferente da minha, o tradutor não sei se é tão bom. Tu não é obrigada a gostar, tá?”.
 

Os episódios da geladeira e do livro, cada um a seu modo, demonstram o quanto ficamos inseguros ao virarmos referência. No caso da geladeira, a única prova que eu tinha de que ela estava amarelando eram as luzes piscantes. Quando elas pararam de piscar, passou a valer apenas a minha palavra. Que solidão.
 

Quando meu amigo incentivou a leitura do livro, estava expondo sua erudição, já que o autor era um filósofo. Mas no momento em que demonstrei interesse em ler também, ele passou a duvidar do próprio entusiasmo. E se o livro não fosse tão bom no meu parecer? De repente, não era mais o livro que estaria em julgamento, e sim ele. Solidão, também.
 

Outra: uma amiga resolveu ir a Machu Picchu depois que comentei coisas incríveis sobre a viagem que fiz para lá recentemente. Ai, ai, ai. E se ela passar mal com a altitude? E se achar a comida muito apimentada? E se voltar pensando que me empolgo por qualquer ruína de cartão-postal? Já era: terá perdido a chance de ir para outro lugar mais encantador a seus olhos. Por que fui emprestar os meus?
 

No fim das contas, tudo o que queremos é ser amados. Por aqueles a quem recomendamos um livro, por quem resolveu viajar incentivado por nós, e, sim, pelo técnico que confirmou que nossa geladeira estava mesmo estragada, contra qualquer evidência. Falando na geladeira, passa bem. As luzes nunca mais piscaram, nem o alarme disparou. A não ser o meu: “Não se leve tão a sério, não se leve tão a sério, não se leve tão a sério”.

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