O amor que eu sempre quis [Patrícia 'Ticcia' Antoniete]
Eu quero mesmo é um amor. Pode ser um amor feinho como o da Adélia, bem simplinho, bem básico, bem sem fru-fru. Não precisa ser lindão, mas também não pode ser jururu, não precisa ser de arrasar, não precisa embalagem fina, salto alto. Pode ser amor pé descalço, despretensioso, que, pra variar, esteja pertinho e, se não estiver, dê jeito de ficar o mais depressa e urgentemente possível. Um amor de beijar, de amassar, aprazível, anti-derrapante que não solte as tiras, não deforme mas que, por favor, tenha cheiros vários. Um amor que não morra de susto, que não se tranque no armário, que não estaqueie, que não amarele, não fique pasmo, não encrenque e pare de funcionar da noite para o dia sem garantia ou assistência técnica. Pode ser sem opcionais, sem adereços, sem rima ou métrica, sem extras e sem bônus de vale-brinde, mas precisa estar em razoável estado de conservação. Muito importante é ser amor pé no chão: chega de platônicos, de fãs, admiradores ou de amor de fantasia. Se você é daqueles que aprecia uma musa inspiradora e epifanias para carregar na lembrança e nos enlevos pro resto da
vida, para sonhar, imaginar, recordar e rejubilar-se, vá procurar outra sílfide, outra ninfa, outra pobre coitada compatível com altares, alturas e símbalos sonantes. Eu quero um amor pulsante, para beijar de olhos abertos, para tratar da frieira, para ir ao supermercado, para resolver problema, para brigar por mais espaço na rede, para reclamar que desmarcou a página do
livro, para passear na feira. Eu quero mesmo é uma amor bem vivo, daqueles férteis, tarados, famintos mas quietinhos, um amor de mãos dadas, de subentendidos e gargalhadas, café bem forte, beijo no pescoço, almoço de domingo, família peculiar. Eu quero um amor de se entregar que não me deixe esperando, não me pegue chorando de tristeza, que não me faça sofrer. Eu
quero um amor sem aspereza, pra viver os dias todos: os muito quentes com gelo e limão, os muitos frios de pijama, chocolate e roupão. Eu quero um amor que faça da gente uma casa um para o outro, que nos torne reciprocamente refúgios contra todo o resto do mundo, um amor pra se abrir, se prescrutar, se invadir e não panicar. Eu quero um amor de surpresas boas, de confiança, de sofreguidão e de calmaria, um amor pra luz do dia e o mesmo amor para as noites vadias, um amor para enfrentar tudo e todos juntos com a certeza de que ainda que não sobrasse nada, sobraríamos nós, um pra ser o amor do outro.
*Patricia Antoniete Ferreira é uma advogada portoalegrense que publicou este texto originalmente em seu blog, o Mme Mean, quando ainda tinha pouca esperança de encontrá-lo e hoje sabe que ele realmente existe.
Copyright © 2009 by Patrícia "Ticcia" Antoniete Todos os direitos reservados. All rights reserved.
livro, para passear na feira. Eu quero mesmo é uma amor bem vivo, daqueles férteis, tarados, famintos mas quietinhos, um amor de mãos dadas, de subentendidos e gargalhadas, café bem forte, beijo no pescoço, almoço de domingo, família peculiar. Eu quero um amor de se entregar que não me deixe esperando, não me pegue chorando de tristeza, que não me faça sofrer. Eu
quero um amor sem aspereza, pra viver os dias todos: os muito quentes com gelo e limão, os muitos frios de pijama, chocolate e roupão. Eu quero um amor que faça da gente uma casa um para o outro, que nos torne reciprocamente refúgios contra todo o resto do mundo, um amor pra se abrir, se prescrutar, se invadir e não panicar. Eu quero um amor de surpresas boas, de confiança, de sofreguidão e de calmaria, um amor pra luz do dia e o mesmo amor para as noites vadias, um amor para enfrentar tudo e todos juntos com a certeza de que ainda que não sobrasse nada, sobraríamos nós, um pra ser o amor do outro.
*Patricia Antoniete Ferreira é uma advogada portoalegrense que publicou este texto originalmente em seu blog, o Mme Mean, quando ainda tinha pouca esperança de encontrá-lo e hoje sabe que ele realmente existe.
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