Ai de nós, quem mandou [by Martha Medeiros]

Há 6 anos eu postei um texto nesse blog que chamava "Dilema: ser inteligente, independente e sincera OU ser burra, submissa e indiferente". Optei pela primeira opção até o momento e às vezes me questiono se não deveria ter me arrependido. Eu achava que ter esses "predicativos" era bom, mas está difícil viu...

Ler a crônica da Martha Medeiros só reforça o post acima. Na minha opinião nada mudou, o que me deixa deveras triste. Concordo com a Martha que o discurso masculino de que gosta de mulheres independentes, que possam conversar e etc não condiz muito com as atitudes: no final eles dão uma boa desculpa para sumir, não consegue encarar uma mulher com opinião e que só dependeria deles emocionalmente.

Por que, me diga, por que foram queimar o sutiã em praça pública?!?! Quem foi a mulher com essa ideia de girico!! Eu estou trocando essa vida por uma de madame, gastando meu tempo ocioso viajando e estudando arte e culturas. Rs... Alguém se habilita?


Mulheres ganham salários menores do que os dos homens, e líderes feministas seguem lutando para reverter essa injustiça. Mas já não sei se é boa ideia continuar batalhando
por igualdade. Depois de ler o resultado de uma recente pesquisa feita pela Universidade de Harvard, fiquei inclinada a pensar que talvez seja melhor manter as coisas como estão. A pesquisa se chama “Schooling can't buy me love” (Escolaridade não pode me comprar amor) e confirma que mulheres que estudam mais progridem. Porém, quanto mais bem-sucedidas, menores as chances de casar. Os homens ainda não estão preparados para abrir mão da superioridade que o papel de provedor lhes confere. E mesmo os mais antenados, que apoiam que suas mulheres sejam independentes, ficam inseguros se elas tiverem cargos de chefia e muita visibilidade. Ganhar dinheiro tudo bem, mas aparecer mais do que eles já é desaforo.

Beleza. O que vamos dizer para as nossas filhas? Estudem, mas fazer doutorado e
mestrado é exagero, antes um bom curso de culinária. Tenham opiniões próprias quando
conversarem com as amigas, mas em casa digam só ahã para não se incomodar. Usem seu dinheiro para comprar roupas, pulseiras e esmaltes, esqueçam o investimento em viagens, teatro e livros. E na hora de se declararem, troquem o “eu te amo” por “eu preciso de você”, “eu não sou ninguém sem você”, “eu não valho meio quilo de alcatra sem você”. Homens querem se sentir necessários. Amados, só, não serve.

Que encrenca que as feministas nos arranjaram. Estimularam o pensamento livre, a
autoestima, a produtividade e a alegria de trilhar um caminho condizente com nosso potencial. De apêndices dos nossos pais e maridos, passamos a ter um nome próprio e uma vida própria, e acreditamos que isso seria excelente para todos os envolvidos, afinal, os sentimentos ficaram mais honestos, e com eles os relacionamentos. O amor deixou de ser o álibi para um lucrativo arranjo social. Passou a ser mais espontâneo, e as carências de homens e mulheres foram unificadas, já que todos precisam uns dos outros para dividir angústias, trocar carinho, pedir apoio, confessar fraquezas, unir forças no momento das dificuldades. Todos se precisam da mesma forma, não de formas distintas. Mas há quem defenda que homem só precisa de paparico, e mulher, de quem tome conta dela,
punto e basta.

Nunca imaginei que em 2010 ainda estaria escrevendo sobre isso. Achei que os homens já tivessem percebido o quanto ganham em ter uma mulher inteira a seu lado, e não um bibelô. Acreditei que a competitividade tivesse dado lugar a um companheirismo mais
saudável e excitante, em que todos pudessem se orgulhar dos seus avanços e se apoiar nas quedas, mas que iludida: isso não existe, filha. Essas mulheres aí que não cozinham, não passam, não lavam, só evoluem, essas não são exemplo para ninguém, são umas coitadas de umas infelizes que pagam as contas e ainda se acham divertidas, se fazem de inteligentes, querem bater perna em Nova York, pois vão arder no fogo do inferno, vão amargar na solidão, vão morrer abraçadas nos seus laptops, aqui se faz, aqui se paga, pode escrever.
Tamo ferrada.


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